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Incursão turca no Iraque após ataques do PKK

Doha, Catar, 20/10/2011 – Tropas turcas ingressaram por terra e ar nas montanhas do norte do Iraque, após ataques simultâneos de separatistas curdos no sudeste da Turquia, que mataram 26 soldados. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que há décadas combate com Ancara pela independência do povo curdo, assumiu os ataques cometidos entre as últimas horas do dia 18 e as primeiras horas de ontem.

Uma fonte da segurança turca disse que as ações curdas se dirigiram a instalações policiais e militares em vários lugares dos distritos de Çukurka e Yüksekova, na província de Hakkari, perto do limite com a semiautônoma região curda do norte do Iraque. O exército turco respondeu com uma operação aérea e envio de soldados que perseguiram combatentes curdos nas montanhas iraquianas de Qandil.

O Curdistão é uma região sem acesso para o mar que fica no oeste da Ásia e norte do Oriente Médio, reclamada pelo povo curdo, mas dividida em zonas administrativas por Síria, Armênia, Turquia, Iraque e Irã.

“No momento prosseguem as ações de longo alcance, como perseguições intensas, no contexto do direito internacional”, disse ontem aos jornalistas o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Em um discurso na televisão, Erdogan disse que “está muito claro que esta organização terrorista (PKK) é um títere nas mãos de determinadas potências”, sem citar a quais países se referia.

O primeiro-ministro cancelou sua viagem ao Cazaquistão, enquanto seu chanceler, Ahmet Davuto?lu, propôs uma visita diplomática à Bósnia-Herzegovina. O presidente turco, Abdulah Gul, também adotou uma postura dura sobre o direito de seu país responder a um ataque. “Ninguém deve esquecer que aqueles que nos fazem sofrer esta dor sofrerão ainda mais. Verão que a vingança por estes ataques será imensa”, declarou ontem à imprensa.

Porém, Roj Welat, porta-voz do PKK, disse à rede de televisão Al Jazeera que o grupo lançou sua última ofensiva em resposta a uma campanha militar que a Turquia mantém desde as eleições de junho. Pelo menos nove crianças curdas morreram nessas operações turcas, contou. “Como sabem, há pouco o presidente da república turca visitou a zona de fronteira e começou uma campanha contra nossas forças. Em consequência, a guerrilha começou uma operação revolucionária” contra tropas de Ancara, ressaltou.

De Istambul, a jornalista Anita McNaught, da Al Jazeera, informou que os combates começaram antes da meia-noite e se estenderam por todo o dia. “Ainda há focos ativos, enquanto o exército turco inunda a área com mais tropas e tenta determinar exatamente de onde partiram os ataques, bem como seus responsáveis”, explicou McNaught. As incursões no Iraque “têm precedentes: nos últimos dois anos o parlamento autorizou o exército a realizá-las. E, pelo que sabemos, entraram com aviões e há ataques aéreos em território iraquiano”, acrescentou a jornalista.

O governo turco tem um acordo com sua contraparte iraquiana para realizar essas operações de “perseguição intensa”, e neste mês o parlamento renovou as faculdades do exército para conduzir incursões dentro do território do Iraque. Entretanto, tanto o governo iraquiano como as autoridades regionais curdas condenaram os bombardeios turcos como uma violação à soberania do Iraque.

Jabbar Yawar, porta-voz para segurança do Curdistão iraquiano, negou que nessa região houvesse tropas turcas, e insistiu que os combates ocorreram em território do país vizinho. “Não há forças turcas no Curdistão”, disse à Al Jazeera. As mortes de soldados turcos ocorreram um dia após a explosão de uma mina terrestre, também no sudeste, que matou oito pessoas, em uma ação que as forças de segurança atribuíram aos guerrilheiros curdos.

No dia 18, uma mina colocada em uma estrada rural no distrito de Guroymak, província de Bitlis – área majoritariamente curda – foi detonada por controle remoto quando passava um veículo policial, informou a agência de notícias Anatolia, citando o governador Nurettin Yilmaz. No atentado morreram cinco policiais e três civis, entre eles uma menina de dois anos. As forças turcas percorreram a área em busca de atacantes, supostamente guerrilheiros do PKK.

McNaught disse que estas últimas ações parecem ser uma resposta ao anúncio militar turco, de 30 de setembro, de que seriam reinstaladas “zonas de segurança temporárias” em 15 localidades em todo o sudeste, que restringem a circulação da população civil. “A escala dos ataques é significativa. Este é o número mais elevado de mortes e a resposta mais coordenada e mortal que o PKK lança em muito tempo”, destacou a jornalista.

Nos últimos meses, os combatentes curdos realizaram uma série de ações no sudeste da Turquia, causando a morte de mais de 50 turcos desde julho. O PKK, declarado grupo terrorista pela Turquia, pegou em armas em 1984, em busca de um Estado autônomo para o povo curdo, iniciando um conflito no qual já morreram cerca de 45 mil pessoas. Envolverde/IPS

* Uma versão deste artigo foi divulgada pela Al Jazeera.