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O sul dos Estados Unidos também existe

Manifestantes acampados no Parque Robert W. Woodruff. Foto: Danger Productions/Donald Watkins/Flickr

Atlanta, Estados Unidos, 21/10/2011 – O movimento de indignados e prejudicados pela crise financeira se espalha pelos Estados Unidos e pelo mundo. Os desafios que os ativistas enfrentam no sul deste país são únicos. Os manifestantes demonstraram seu descontentamento em várias cidades do sul dos Estados Unidos, entre elas Atlanta e Augusta, no Estado da Geórgia, Colúmbia, na Carolina do Sul, Fort Lauderdale, Orlando e Miami, na Flórida, e Nova Orleans, na Louisiana.

Em Atlanta, onde nasceu o histórico Movimento pelos Direitos Civis, as autoridades não sabem o que fazer com os manifestantes, que literalmente ocuparam com barracas o Parque Robert W. Woodruff, no centro da cidade, e não pensam em ir embora tão já. O prefeito Kasim Reed ampliou o prazo para que os manifestantes possam permanecer mais três semanas ocupando o Parque.

“A desobediência civil é uma forma válida de expressão, enquanto for pacífica, não violenta e dentro da lei”, diz um comunicado de Reed. “Os manifestantes de Occupy Atlanta (Ocupe Atlanta) continuam reunidos em paz e sem violência. Ampliei o prazo para permanecerem no Parque após seu fechamento, até a próxima reunião da prefeitura no dia 7 de novembro”, acrescenta.

Em outras cidades, como Boston, Massachusetts e Nova York houve detenções em massa. Porém, a solução temporária encontrada em Atlanta não foi fácil de se conseguir. O Ocupe Atlanta, que se instalou no parque no dia 7, está integrado por centenas de ativistas, na maioria jovens, desencantados e sem experiência política. Este último ficou evidente quando o legislador do governante Partido Democrata John Lewis, herói do Movimento pelos Direitos Civis, foi ao Parque e os jovens não deixaram que falasse à multidão, após deliberaram por dez minutos.

Isso não caiu bem entre ativistas veteranos, que consideram que não estão sendo consultados de forma adequada “Estamos no sul e fazemos as coisas de outra forma”, escreveu um dos manifestantes no Blog for Democracy. “Perguntem a qualquer organização sem fins lucrativos de Atlanta quantas vezes funcionou um modelo nacional aqui. Provavelmente, apenas 5%. Por que?”, perguntou. “Porque fazemos as coisas de forma diferente”, respondeu.

“Primeiro somos uma comunidade, gostem, ou não. Se querem isto com vocês, então têm de demonstrar algum tipo de liderança. Isto não significa que deve haver um líder, mas alguém que conheçamos e que tenha liderado uma causa ou um movimento por mais de cinco minutos. Não os seguirão se ninguém sabe quem os conduz”, acrescentou o manifestante.

As autoridades fizeram ato de presença no dia 17, por volta das 11 horas da noite. O comissário de parques, George Dusenbery, distribuiu um folheto com vários parágrafos do Código de Posturas de Atlanta que fala que o lugar fecha à noite e que não é permitido prejudicar a grama. A IPS fez algumas perguntas a Dusenbery sobre o que acontecia no Parque, mas não obteve resposta.

À meia-noite, a polícia cercou aproximadamente 400 manifestantes e lhes disse que se não queriam ser detidos deveriam deixar o Parque. Alguns o fizeram temporariamente e outros 40 sentaram na grama, de braços dados e prontos para serem detidos. Entre eles estava Amy Barnes, de 34 anos. “Há um ano estou desempregado. Tinha que estar aqui. tenho que escolher entre alimentar meus filhos ou pagar a conta de luz”, disse chorando. Em lugar de deter as pessoas que formaram um círculo, a polícia foi embora e os ativistas regressaram ao Parque.

“As coisas estão tão ruins neste país e no mundo. Nossas necessidades são diferentes e vinculadas. Nossos movimentos também devem ser assim para criar soluções. Sinto com sendo o princípio de uma revolução”, disse Misty Novitch, de 24 anos. O Ocupe Atlanta fez diversas marchas e manifestações.

A IPS também esteve na mobilização do Ocupe Augusta, a pitoresca cidade do sul do Estado da Geórgia, onde cerca de 20 manifestantes se reúnem diariamente em um parque central desde o dia 13 deste mês. Eles obtiveram autorização para permanecer no parque entre cinco horas e nove horas da noite nos dias de semana e das três às seis nos finais de semana. Ainda não pretendem ocupá-lo à noite.

“Procuramos adaptar e apoiar o Ocupe em nossa comunidade”, disse Maple Dynan, de 22 anos, à IPS. “Não temos uma população numerosa nem apoio de movimentos de bases”, afirmou. Yoni James, de 23 anos, disse que foi ao local para “incentivar a solidariedade e o sentimento de unanimidade. Assuntos delicados nos mantêm polarizados. Não é o que precisamos. Devemos estar unidos”, ressaltou. Envolverde/IPS