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A ciência caminha firme para vacina contra a malária

Nova York, Estados Unidos, 24/10/2011 – A novo protótipo de vacina contra a malária, conhecida como RTS,S reduz pela metade o risco de crianças contraírem a doença, segundo os resultados da fase três de testes clínicos. A conclusão tem grandes implicações, pois esta doença responde pela morte de 800 mil pessoas ao ano. A malária, que mata uma criança a cada 45 segundos na África, é responsável por cerca de 20% dos falecimentos de menores, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS). Como provoca febre alta e calafrios, pode se transformar rapidamente em severa, o que pode ser fatal.

O teste foi feito em 11 lugares diferentes de sete países da África subsaariana. Três doses da RTS,S reduzem em 56% o risco de contrair malária, segundo a análise dos testes feitos nos primeiros seis mil bebês entre cinco e 17 meses, nos 12 meses seguintes à vacinação, informaram os pesquisadores. Os testes também foram realizados em bebês entre seis e 12 semanas. As conclusões estarão prontas até o final de 2012 e fornecerão mais dados sobre a eficácia de longo prazo da vacina, que estará disponível a partir de 2014. Trata-se do maior experimento com uma vacina contra a malária feito até agora, com testes clínicos em 15.460 bebês de ambos os sexos.

“Isto nos aproxima da primeira vacina do mundo contra a malária”, disse Andrew Witty, diretor-geral e presidente do laboratório britânico GlaxoSmithKline (GSK) Biologicals, encarregado dos testes clínicos junto com a Malaria Vaccine Initiative (MVI), da organização internacional Path. Além do potencial da vacina para salvar vidas, os resultados encontrados são importantes porque destacam duas suposições erradas em relação à doença, disse Regina Rabinovitch, da Fundação Bill e Melinda Gates, que destinou recursos para a pesquisa.

O primeiro erro é as pessoas pensarem que já existe uma vacina, o segundo é o convencimento da comunidade científica de que não se pode encontrar uma. O produto elaborado não oferece uma proteção total, mas a imunidade à doença se desenvolve com os anos de exposição, por isso a maioria das mortes é de crianças muito pequenas. A vacina RTS,S foi criada em 1987. Os primeiros testes foram feitos nos Estados Unidos e na Bélgica em 1993, e em 1998 foi testada pela primeira vez na África, em adultos de Gâmbia.

Metade da população mundial está em risco de contrair malária. Em 2009, a doença estava presente em 108 países. A maioria dos casos se concentrava na África subsaariana, além de Ásia, América Latina, Oriente Médio e inclusive em partes da Europa. O parasita Plasmodium, transmitido por mosquitos infectados, provoca a malária em humanos ao multiplicar-se no fígado e depois infectar os glóbulos vermelhos. “É uma doença dos pobres”, disse o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), porque suas casas costumam ser precárias e não ter a adequada proteção contra os mosquitos.

O impacto econômico da malária na África é amplamente reconhecido, pois dificulta o crescimento e o desenvolvimento. Métodos de prevenção como dormir sob mosquiteiros com inseticida podem ser efetivos, mas muitas crianças não costumam ter um e tampouco têm acesso imediato a tratamento médico. Além disso, o parasita está cada vez mais resistente ao tratamento, o que complica os esforços para combater a doença. Nos países com muitos casos de malária, o produto interno bruto pode cair até 1,3%, informou a OMS. A perda de produtividade custa à África US$ 12 bilhões ao ano.

O resultado do teste é animador, mas “temos muito caminho pela frente ainda”, disse Tsiri Agbenyega, pesquisador principal e presidente do Clinical Trials Partnerships Committee (Comitê de Associação para Testes Clínicos), uma iniciativa de 11 centros de pesquisa africanos, da MVI, e do GSK Biologicals, encarregado das fases dois e três do protótipo da vacina RTS,S. “Existe a possibilidade de evitar o contágio de dezenas de milhões de crianças”, acrescentou.

Foram destinados US$ 300 milhões para o desenvolvimento da vacina, e o GSK prevê investir mais US$ 50 milhões, ou mesmo US$ 100 milhões. “Nossa intenção é comercializar a vacina ao menor preço possível”, disse Agbenyega. Seu custo poderia ser 5% maior do que o do remédio usado para tratar a doença. O dinheiro dessa diferença será reinvestido em mais pesquisas sobre malária e outras enfermidades. “Não estamos nessa situação, mas estamos bem encaminhados”, disse Christopher Elias, presidente e diretor-geral da Path. A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou na semana passada que dois milhões de somalianos correm o risco de contrair a doença. Envolverde/IPS