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Sedento eucalipto revela seu valor climático

Peter Nyaga inspeciona a plantação de eucaliptos de sua propriedade de dois hectares. Foto: Isaiah Esipisu/IPS

Nairóbi, Quênia, 14/12/2011 – Em uma empinada ladeira na aldeia de Thangathi, na província Central do Quênia, Peter Nyaga inspeciona a plantação de eucaliptos de sua propriedade de dois hectares e calcula o preço que terão as árvores quando amadurecerem, dentro de três anos. A US$ 90 cada uma e com 2.400 plantadas, Nyaga estima que conseguiria comprar outro terreno.

“As plantei há quatro anos para controlar a erosão do solo nesta colina. E aqui estão, grandes, e podem ser usadas para fazer lenha, carvão e outras coisas”, disse à IPS este homem de 39 anos, pai de três filhos. Nyaga sabe que servirão para melhorar sua renda, mas ignora que, ao plantar os eucaliptos, também ajudou a absorver gases-estufa da atmosfera.

As primeiras conclusões de um estudo que realiza o Instituto de Pesquisa Florestal do Quênia (Kefri) mostram que esta espécie pode ser usada para mitigar o aquecimento global. A pesquisa pretende estimar a capacidade de absorver e armazenar carbono de três espécies estrangeiras presentes no Quênia, o eucalipto (Eucalyptus saligna), o pinheiro (Pinus patula) e o cipreste (Cupressus lusitanica), em comparação com a árvore nativa mais comum na mesma região, o cedro.

As descobertas preliminares indicam que na província Central um hectare com 840 eucaliptos absorveu 337 toneladas de dióxido de carbono (CO²) em oito anos. A título de comparação, a Suécia, primeira entre os países que mais lutam contra o aquecimento global, segundo o Índice de Proteção Climática 2012, emite 50.600 toneladas de CO² ao ano.

“O resultado foi obtido calculando a quantidade de dióxido de carbono sequestrado pelo Eucalyptus saligna e outras duas espécies estrangeiras, como o Pinus patula, que absorveu 99,4 toneladas de CO² em dez anos, e o cipreste, que capturou 73,3 toneladas em oito anos”, disse Vincent Onguso Oeba, responsável pela pesquisa e diretor da divisão biométrica do Kefri.

Estes resultados “foram, então, comparados como o do cedro autóctone em suas zonas ecológicas preferidas”, acrescentou Oeba. “O cedro (Juniperus procera) em sua melhor área ecológica da província Central, com 587 árvores por hectare, absorveu apenas 55 toneladas de CO² em 19 anos”, ressaltou.

Entretanto, o eucalipto não é bem-vindo no Quênia. Em 2009, o ministro do Meio Ambiente, John Michuki, ordenou que fossem arrancadas pela raiz todas as árvores dessa espécie que cresceram perto de fontes de água a fim de reduzir o impacto da seca que afeta o país. Os proprietários, que haviam investido em espécies melhoradas de eucaliptos na província Central, tiveram que cortar suas árvores. Contudo, a plantação de Nyaga sobreviveu porque fica a uma distância suficiente do curso de água mais próximo.

A lei queniana permite plantar espécies estrangeiras a mais de 30 metros de uma corrente de água com mais de dois metros de largura. “Se plantar eucaliptos perto da água, as raízes sentirão a umidade e abrirão muito seus estomas (poros microscópicos) para absorver grande quantidade de líquido do solo. Mas, se forem plantadas em um terreno alto, perceberão a falta de umidade e fecharão seus estomas o mais possível para reter a pouca água disponível”, explicou Muraya Minjire, especialista em viveiros do Projeto Biotecnológico de Árvores.

Os estomas, localizados na epiderme dos vegetais superiores, agem como um portal para o intercâmbio eficiente de gases e água com o exterior. O Kefri estuda a capacidade de absorção de CO² de outras dez espécies de árvores autóctones. “Também estamos desenvolvendo equações de aceitação internacional que possam ser usadas em escala local para estimar com exatidão o CO² que uma espécie pode absorver da atmosfera em uma determinada idade, de modo que os que estão no negócio do carbono possam discernir se há uma oportunidade de comércio”, esclareceu Oeba.

Necessita-se uma quantificação de CO² específica de cada espécie para que sejam mais sólidos os sistemas de controle de emissões de gases-estufa, segundo o estudo. “A questão das espécies de árvores deve ser incluída nas políticas de adaptação à mudança climática”, alertou Oeba. Por seu lado, Nyaga continua pensando em cortar suas árvores quanto estiverem maduras, ao completarem sete anos. “Meu principal objetivo é vendê-las à Companhia de Energia e Iluminação do Quênia para usá-las como postes da rede elétrica”, disse à IPS.

* Este artigo é parte de uma série apoiada pela Aliança Clima e Desenvolvimento (CDKN).