Washington, Estados Unidos, 11/1/2012 – A última escalada de ameaças do Irã de atacar navios de guerra dos Estados Unidos e bloquear os envios de petróleo busca aumentar o preço deste produto e desviar a atenção da opinião pública local da crise econômica, mas é pouco provável que termine em guerra, afirmam especialistas. Se o Irã responder às iminentes novas sanções às suas exportações petroleiras, é mais provável que aponte contra a produção de petróleo de seu vizinho Iraque, do que contra navios-tanque estrangeiros no Golfo.
“Já vimos este filme”, disse à IPS o analista do Eurasia Group, Cliff Kupchan, se referindo à retórica desafiadora de Teerã e à resposta de tom belicista de Washington dos últimos dias. “Nenhuma das partes quer uma guerra. Há muito exagero”, afirmou.
Sempre existe a possibilidade de um erro de cálculo nas inflamadas águas do Golfo, mas a Teerã parece mais útil uma guerra de palavras do que hostilidades reais. O preço do petróleo disparou 4% após a advertência feita no dia 3 pelo comandante das Forças Armadas iranianas, general Ataollah Salehi, para que o porta-aviões norte-americano que deixou o Golfo na semana passada não regressasse.
Os Estados Unidos também se beneficiaram das tensões. Há pouco fechou acordo com a Arábia Saudita para vender-lhe US$ 30 bilhões em armamento avançado e outro com os Emirados Árabes Unidos no valor de US$ 3,5 bilhões em armas. Apesar das ameaças da semana passada de fechar o estreito de Ormuz, o gargalo para a maior parte dos navios petroleiros do mundo, o Irã não está em condições de manter a passagem fechada. Os Estados Unidos estão bem equipados para enfrentar as minas iranianas, disse Crist, com quatro navios antiminas no Bahrein e uma vigilância superior. O Irã possui mísseis antinavios avançados e três submarinos russos, mas Kuphcan disse que seu poderio naval no Golfo é “fraco”.
Se o Irã provoca um enfrentamento, os falcões (ala mais belicista do Partido Republicano) já sugere que a marinha dos Estados Unidos deve aproveitar para atacar embarcações iranianas e, de passagem, suas instalações nucleares. O governo de Barack Obama não deu sinais nesse sentido, e Kupchan afirmou ser pouco provável que Teerã coloque em perigo as “joias da coroa”.
O Irã tentará manter suas exportações de petróleo através do Golfo e apontar para os navios de países árabes, como Arábia Saudita e Kuwait, embora afetasse suas relações com a China, principal importador do petróleo saudita, assim como do Irã. Pequim, além disso, é o principal sócio comercial de Teerã, a quem deu apoio político, chegando a ameaçar usar seu poder de veto no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para evitar novas sanções contra os iranianos.
Washington reiterou que manterá o Golfo aberto à circulação, embora Obama não deseje um novo conflito no Oriente Médio num momento em que procura reduzir o gasto na defesa e deseja a reeleição. Os Estados Unidos tampouco trataram de aproveitar a maior pressão sobre o Irã para promover uma solução diplomática para o enfrentamento causado pelo programa nuclear de Teerã.
A imprensa local disse que o Irã busca realizar este mês uma nova rodada de negociações nucleares com os Estados Unidos, os outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha. Contudo, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, afirmou na semana passada que o Irã ainda não enviou um pedido escrito. Os funcionários norte-americanos apenas mencionaram nos últimos meses a opção diplomática para lidar com o Irã, após a breve tentativa de seguir essa via durante o primeiro ano de governo de Obama. O foco está voltado quase que totalmente para as sanções.
Nuland disse que o governo Obama examina as novas “ameaças de Teerã como evidência de que a pressão internacional começava a repercutir nesse país, e de que se sente cada vez mais isolado e procura desviar a atenção pública das dificuldades internas, incluídos os problemas derivados das sanções” econômicas. A retórica bélica do Irã coincide com a queda livre de sua moeda, o rial. Há um ano, para comprar um dólar eram necessários dez mil riais, agora são necessários entre 16 mil e 18 mil.
Djavad Salehi-Isfahani, especialista em economia iraniana do Instituto Politécnico de Virgínia, disse à IPS que a classe média é a mais atingida pela desvalorização da divisa. Houve um momento na semana passada em que “não havia dólares para comprar” nas agências de câmbio de Teerã. O governo iraniano ainda tem reservas substanciais de ouro e dinheiro, mas há uma grande escassez de papel moeda, exacerbada pela dificuldade de realizar transações bancárias com o exterior.
Os pequenos industriais, desesperados por manterem suas fábricas e dependentes da importação de bens intermediários, pressionam nervosos o preço do dólar para cima, disse Salehi-Isfahani. Outros que sofreram com a desvalorização da moeda são os pais com filhos estudando no exterior. “Há meio milhão de jovens no estrangeiro. Precisam de dólares para pagar as aulas e o aluguel”, acrescentou.
A crise econômica coincide com uma conjuntura política delicada para o regime iraniano. As eleições parlamentares estão previstas para 2 de março, e o governo teme que a baixa participação afete ainda mais sua legitimidade, já fraca após as disputadas eleições presidenciais de 2009 e a consequente repressão da oposição.
A queda do rial parece, em parte, uma reação ao antecipado embargo da União Europeia (UE) contra o petróleo iraniano. Os membros do bloco decidiram, inicialmente, deter as importações que eram de, em média, 450 mil barris (de 159 litros) de petróleo por dia.
A UE, que se prevê tomará uma decisão definitiva no final deste mês, responde a uma nova lei, promulgada por Obama na véspera de Ano Novo, que proíbe bancos norte-americanos de fazerem transações financeiras com instituições estrangeiras que negociem com o Banco Central do Irã. A lei prevê vários meses para efetivar as sanções e permite a Obama não aplicar as penas correspondentes se forem causar grandes transtornos no mercado mundial do petróleo.
Kupchan especulou que o Irã pode responder sabotando a produção do petróleo iraquiano, aproveitando-se do caos nesse país após a retirada das forças dos Estados Unidos e, assim, tentar prejudicar o mercado petroleiro mundial. “Se quiser minar a lei, o petróleo mais fácil de tirar do caminho é o do Iraque”, acrescentou. Envolverde/IPS