Iniciativa do Instituto Serrapilheira forma futuros cientistas para lidar com os desafios globais da ecologia, da biodiversidade e das mudanças climáticas
O Instituto Serrapilheira vai proporcionar a 30 estudantes de graduação e mestrado, de 15 estados brasileiros, uma imersão científica de duas semanas focada em ecologia na região de Petrópolis (RJ). Nos moldes de um congresso, o “retiro científico” será realizado de 25 de fevereiro a 8 de março e contará com a participação de cientistas renomados na área vindos de diferentes países. A ação faz parte da 4ª edição do Programa de Formação em Ecologia Quantitativa, que visa preparar futuros cientistas para lidarem com os desafios da ecologia.
A imersão contará com palestras de 12 professores e pesquisadores de universidades do mundo todo, como Princeton, Nova York, Washington, Lisboa e iEES Paris. O encontro vai abordar temas atuais, como estratégias para medir alterações na biodiversidade, impactos das mudanças climáticas e outros. Os estudantes também serão orientados sobre como seguir carreira na área e ampliar sua rede de contatos. O grupo fará ainda uma visita à Reserva Biológica das Araras e trilhas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
A cientista Anne Magurran, da Universidade de Saint Andrews (Reino Unido), é uma das pesquisadoras mais aguardadas pelos alunos. Seu foco de trabalho está na maneira com que comunidades ecológicas mudam ao longo do tempo. Outro nome que marcará presença é o cientista Mark C. Urban, da Universidade de Connecticut (EUA). Recentemente, a pesquisa de Urban tem focado no desenvolvimento de estratégias globais para avaliar e reduzir os riscos de extinção na diversidade biológica causados pelas mudanças climáticas.
“A ideia é que, logo após o treinamento intensivo das ferramentas quantitativas do módulo teórico, os alunos aproveitem esse conhecimento para interagir com ecólogos destacados do mundo todo e construir uma rede de contatos, como se estivessem em um congresso internacional”, explica Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira. “Uma imersão como essa abre portas para programas de doutorado de ponta e outras possibilidades profissionais, ajudando no percurso desses jovens talentos num momento decisivo da carreira deles.”
Conheça os pesquisadores participantes
Outros cientistas que participam dessa imersão são Jonathan Levine (Princeton/EUA), Janneke Hille Ris Lambers (Washington/EUA), Rampal Etienne (Groningen/Holanda), Jason Tylianakis (Canterbury/Nova Zelândia), Elisa Thébault (iEES Paris/França), Sara Magalhães (Lisboa/Portugal), Carla Staver (Yale/EUA), Mercedes Pascual (Nova York/EUA), Aaron King (Michigan/EUA) e Michael Bode (Queensland/Austrália). A lista completa de professores desta edição pode ser consultada aqui.
Participam da iniciativa estudantes das áreas de biologia, física, matemática e engenharia da computação. O objetivo do Serrapilheira é que a diversidade de áreas traga diferentes olhares para as questões da ecologia, área em que a colaboração interdisciplinar é fundamental.
Esta é a primeira vez que o Instituto Serrapilheira irá levar estudantes para uma imersão científica no Programa de Formação em Ecologia Quantitativa. Parte dos alunos da última edição do curso também foram convidados para o encontro. Eles irão contar aos atuais alunos sobre suas experiências e compartilhar os projetos desenvolvidos.
O encontro é a etapa final da primeira parte do programa, que tem duas fases: uma teórica e outra empírica, marcada por um curso de campo na Mata Atlântica e Amazônia. Na primeira fase, os estudantes participam de um treinamento intensivo de cerca de 250 horas no Rio de Janeiro sobre ferramentas quantitativas aplicadas em ecologia, além de debates, palestras e outras atividades. Já a segunda fase prevê atividades empíricas de pesquisa de campo. Ao final da imersão científica, 16 dos 30 alunos serão selecionados para esta etapa, prevista para ocorrer em julho deste ano. Em ambos os casos, as passagens e hospedagem dos alunos são custeadas pelo Serrapilheira. O Instituto ainda oferece uma ajuda de custo.
“O que mais me surpreendeu foi a troca de conhecimentos e culturas diferentes entre os colegas de curso”, diz a estudante Beatriz Tristão, que participa desta edição. “Não me lembro de estar em um lugar que me possibilitasse um convívio tão intenso com pessoas de diferentes lugares do país, com backgrounds tão diversos. Estou aprendendo muito.”
Conheça a Formação em Ecologia Quantitativa
Alunos da 4ª edição do Programa de Formação em Ecologia Quantitativa Foto: Divulgação/Instituto Serrapilheira |
Por que investir em ecologia
O Programa de Formação em Ecologia Quantitativa é parte de um movimento do Serrapilheira, intensificado nos últimos anos, para desenvolver a ecologia tropical como eixo estratégico para o país, que tem a maior biodiversidade do mundo. O objetivo é aproveitar o potencial do Brasil de liderança no combate à crise climática e à devastação de biomas para fazer do país um polo global de cientistas da área.
Além de formar futuros cientistas com um olhar transdisciplinar para a ecologia, o instituto trabalha no projeto-piloto de um centro de pesquisa e advocacy em ecologia tropical, com a participação de cientistas e especialistas em políticas públicas. A premissa é a de que, em um cenário de rápida degradação ambiental, a biodiversidade e os benefícios trazidos pelos ecossistemas, como a provisão de alimentos e água e o sequestro de carbono, ainda são pouco compreendidos por tomadores de decisão em todo o mundo. Há, portanto, a necessidade urgente de preencher a lacuna entre ciências e políticas públicas e, ao mesmo tempo, garantir ao Brasil uma representação nas agendas globais do clima e do capital natural à altura de sua importância. Mais novidades sobre o piloto do centro de ecologia estão previstas para os próximos meses.
Sobre o Serrapilheira
Lançado em 2017, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões. O instituto tem três programas: Ciência, Formação em Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de R$ 90 milhões investidos.