ODS 15

Ameaçada de extinção, sementes e mudas de palmeira-juçara são usadas para enriquecer trecho de Mata Atlântica na Reserva Natural Salto Morato

Ameaçada de extinção, sementes e mudas de palmeira-juçara são usadas para enriquecer trecho de Mata Atlântica na Reserva Natural Salto Morato

palmeira-juçara (Euterpe edulis), espécie nativa da Mata Atlântica ameaçada de extinção e protegida por leis, tem ganhado espaço na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR). Desde 2009, milhares de mudas e sementes foram plantadas em diferentes áreas da Unidade de Conservação para enriquecer trechos degradados da floresta e contribuir com a conservação da espécie. Ao todo, 13 hectares já foram beneficiados com mais de 10 mil mudas plantadas e cerca de 94 mil sementes. Neste ano, a meta é atingir mais 8 hectares enriquecidos, totalizando 210 mil metros quadrados.  

A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma unidade de conservação criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza desde 1994. Localizada em uma área reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade e em meio à Grande Reserva Mata Atlântica, a reserva é aberta para a visitação do público e também é espaço de estudo para pesquisadores dedicados à conservação da natureza. 

“Desde 2009, estamos dedicados ao enriquecimento com palmeira-juçara de trechos de floresta que, antes da criação da Reserva, foram degradados pela criação de búfalos dos antigos proprietários. Nos trechos mais críticos de desmatamento, os esforços foram direcionados para o plantio de espécies nativas frutíferas e para a condução da regeneração natural, importante técnica de restauração que leva em conta a resiliência local”, explica o biólogo e gerente da Reserva Natural Salto Morato, André Zecchin. “Ameaçada de extinção em decorrência do corte excessivo e predatório que houve no passado em toda a Mata Atlântica, a juçara é um foco de conservação para nós.” 

Essa palmeira cumpre papel-chave na natureza, uma vez que produz frutos que servem de alimento para diversas espécies de animais. “Um exemplo é a jacutinga (Aburria jacutinga), ave também ameaçada de extinção que se alimenta desses frutos e ajuda a dispersar as sementes da planta. Consequentemente, a juçara proporciona o crescimento de outros tipos vegetais no seu entorno, já que as aves dispersam sementes de outras espécies enquanto se alimentam”, explica Zecchin. 

Além disso, a conservação de espécies vegetais pode ser considerada uma Solução Baseada na Natureza (SBN), considerando o potencial das florestas em contribuir com a regulação do fluxo de mananciais hídricos e regulação climática. 

Extração predatória 

O corte predatório de juçara para exploração e extração de palmito fez com que ela entrasse para a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção do Ibama. Diferentemente da palmeira-pupunha (Bactris gasipaes), que fornece o palmito e volta a crescer com certa rapidez após ser cortada, a palmeira-juçara não aceita a extração do palmito e, quando cortada, morre. Medidas legais protetivas da espécie, iniciativas de educação ambiental e ações de fiscalização buscam inibir a prática criminosa de extração do palmito-juçara. 

“A palmeira-pupunha é uma espécie que chegou como alternativa para propriedades rurais do entorno da reserva depois que o corte do palmito da juçara passou a ser proibido”, comenta Zecchin. “Ao retirar o palmito da pupunha, outro caule volta a crescer em menos de dois anos e pode ser retirado novamente. Já a juçara leva mais de dez anos para chegar no ponto de corte, além de morrer quando o palmito é extraído. Ou seja, o corte ilegal e predatório desencadeia um desequilíbrio ecológico e dificulta a manutenção da espécie.”  

Em outra frente, o fruto da palmeira-juçara agrega valor e é uma alternativa sustentável e regenerativa à extração do palmito, o que ajuda a manter a espécie e a floresta em pé. “Com cor e sabor parecidos aos do açaí produzido no Norte do país e considerado um alimento muito saudável, o fruto da juçara contribui para a formação e consolidação da cadeia de valor de produtos agroflorestais egera renda para produtores rurais, já que com a sua polpa é produzido o chamado ‘juçaí’ ou ‘açaí da Mata Atlântica’, atualmente comercializado por diferentes empresas”, conta Zecchin. 

Envolverde