ODS 13

COP29: momento de acelerar o enfrentamento da emergência climática

por Semíramis Biasoli - A questão do "ponto de não retorno" nos avisa que estamos prestes a ultrapassar limites críticos, que, uma vez ultrapassados, podem transformar nossos ecossistemas de forma irreversível. Cientistas estão dizendo que já estamos muito próximos desse ponto – mas eu ainda acredito que há tempo para reverter a situação, se tomarmos as decisões certas agora.

COP29: momento de acelerar o enfrentamento da emergência climática

Nos últimos anos, muitos têm se mobilizado para mudar esse cenário. Durante a Rio 92, por exemplo, foi criado o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês), que financia projetos de preservação e apoia comunidades locais. Entre esses exemplos de mobilização, podemos destacar o trabalho de Carlos Alberto Pinto dos Santos, pescador baiano e fundador da CONFREM, que luta pelo fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Costeiros e Marinhos; o trabalho do Engajamundo, que envolve a juventude nas questões socioambientais; e as ações da Casa Fluminense, .parceira do FunBEA que também integra a Rede Comuá, e que, no Rio de Janeiro, tem atuado com incidência política das periferias.

Além disso, temos visto uma crescente valorização por parte dos consumidores de empresas e produtos que se preocupam com questões ambientais e sociais, impulsionando o movimento ESG (Environmental, Social and Governance). Algumas empresas começam a entender seu papel na luta contra a emergência climática, ainda que de forma lenta e distante do que realmente precisamos.

O problema, no entanto, é que os principais responsáveis pelas emissões de carbono ainda estão de fora da agenda central. Falo da indústria do petróleo, da mineração, da soja, da carne, e dos grandes bancos que financiam essas corporações. E não podemos esquecer os governos, que muitas vezes colocam interesses econômicos à frente da sustentabilidade.

Um estudo recente da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) mostrou que, se os planos climáticos atuais forem totalmente implementados, até 2030 as emissões de CO2 vão atingir 51,5 gigatoneladas – apenas 2,6% a menos do que em 2019. Isso é alarmante, porque, para evitar o ponto de não retorno, precisamos reduzir em 43% as emissões até 2030. Em seis anos, a redução foi de apenas 2,6%. Ou seja, temos apenas cinco anos para fazer uma mudança significativa.

E não podemos esperar para ver o que acontece. Em 2035, as emissões globais precisam ser reduzidas em 60% para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Isso é fundamental. Estamos em uma corrida contra o tempo, e cada dia conta.

Apesar da urgência, não faltam planos e conhecimento. Temos muitas organizações, políticas públicas e atores sociais que já estão desenhando soluções concretas. E há exemplos inspiradores, como os modelos de vida sustentável dos povos originários, que nos mostram que outra forma de viver e consumir é possível. O que precisamos agora é mudar o modelo: os negócios, o consumo, o estilo de vida. A transformação precisa ser profunda, não apenas superficial.

Na COP 16, realizada recentemente em Cali, Colômbia, tivemos avanços importantes, como o reconhecimento do papel central das comunidades tradicionais, povos indígenas e afrodescendentes. Isso levou à criação de um fundo de repartição de benefícios, uma conquista significativa. Agora, na COP 28, no Azerbaijão, o tema central é o financiamento de ações climáticas. Porém, um problema persiste: os recursos raramente chegam à base. Muitas vezes, apenas uma pequena parte dos movimentos é contemplada com o financiamento necessário.

É hora de garantir que os recursos cheguem às comunidades em todos os biomas, não apenas na Amazônia. Precisamos também reconhecer as estratégias que já estão funcionando, como os fundos ambientais fiduciários, os fundos socioambientais independentes e os fundos comunitários. Esses modelos formam um ecossistema filantrópico forte e muito capaz de enfrentar os desafios, e garantir que esses recursos cheguem de forma mais eficaz às comunidades, que estão na linha de frente da conservação e regeneração da biodiversidade.

A solução para a crise climática é complexa, mas não se resume a trocar carros a gasolina por elétricos. A verdadeira mudança passa pelas escolhas cotidianas, pelas ações locais, pelo respeito ao território, à vida e à biodiversidade. Precisamos agir com urgência, com foco no tripé “gente”, “território” e “recurso”. Se continuarmos com o modelo atual, no qual os recursos ficam nas mãos de grandes governos e corporações, não vamos conseguir mudar o rumo da história.

Agora é o momento de destinar investimentos reais para a restauração e regeneração da biodiversidade, mas com justiça social. A conservação precisa ser feita com equidade, garantindo que as comunidades locais tenham um papel central na gestão e proteção de seus territórios.

Acelerar a mudança, mas com consciência. Acelerar não significa seguir o ritmo descontrolado que nos trouxe até o caos climático, mas respeitar o tempo da natureza, a sua regeneração, e, ao mesmo tempo, imaginar e construir um novo futuro. A hora de agir é agora. Esse é o nosso único caminho.

Semíramis Biasoli – Doutora em Ciências, com ênfase em Políticas Públicas Ambientais pelo Programa em Ecologia Aplicada da ESALQ-USP, (2015) advogada e Gestora Ambiental. Trabalhou junto ao Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (2004/2009). É Secretária Geral do FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental para ação climática desde 2011, membro da Rede Comuá de Filantropia e Justiça Social e da Aliança de Fondos Del Sur.