ODS 13

Resultado da COP29 lembra o “Primo Rico e Primo Pobre”

Se o desfecho do evento fosse o fim da temporada de uma série ou de um programa humorístico, o episódio não teria sentido, muito menos graça.

Resultado da COP29 lembra o “Primo Rico e Primo Pobre”

Se a COP29 fosse o fim de temporada de uma série, o último episódio teria “flopado”. Afinal, para os países que consideram US$1,3 trilhão o necessário para ação climática, US$300 bilhões não agradou a ninguém além dos representantes de países ricos, responsáveis pelo pagamento.

Mas a oposição entre países ricos (EUA, UE e demais industrializados) e os países pobres (não industrializados, mas que sofrem com os eventos climáticos extremos sem tê-los produzido) também lembra outro programa de entretenimento: a comédia.

O quadro “Primo Rico e Primo Pobre” foi criado por Max Nunes para a Rádio Nacional, nos anos 50, mas migrou para a TV na segunda versão do programa “Balança Mas não Cai”, da TV Globo, em 1972. Nele, fazia-se piada com as disparidades das personagens, como a exaltação da vida do rico, ou pela ironia do pobre com a própria desgraça.

A piada final geralmente sugeria que o um primo ajudaria o outro, o que não passava de uma “pegadinha”. Se o primo rico fosse os EUA, União Europeia e demais países do G8, e o pobre, os países insulares e menos desenvolvidos economicamente (Aosis e LDCs, respectivamente), o roteiro seria parecido com isto:

G8: Primo, vou te emprestar $250 para reformar sua casa! (primeira proposta, vinda do lobby dos EUA, União Europeia e demais países ricos do G8)

Aosis/LDC: Obrigado, primo, mas não basta. Preciso de $1.350… (representantes dos Aosis chegaram a se retirar das negociações, alegando que “não foram ouvidos” pelas nações ricas).

G8: Mas eu tenho que arcar com tudo isso? Você não vai gastar nada?
(países ricos tentam flexibilizar cláusula do Acordo de Paris, que responsabiliza as nações industrializadas pelo histórico de emissão de gases de efeito estufa. O objetivo seria dividir a conta do financiamento climático com países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, entre outros)

Aosis/LDC: É muita coisa para consertar, não tenho condições… Só a parte elétrica será uma fortuna (a transição energética, de origem fóssil para fontes de emissão zero, é um dos objetivos do financiamento climático)

G8: Ok, pra não dizer que não te ajudo, te dou $300! Assim que eu falar com o meu gerente, obviamente…
(segundo o acordo aprovado na COP29, o pagamento não virá apenas do orçamento dos países ricos, mas de fontes públicas e privadas, bilaterais e multilaterais, incluindo “fontes alternativas”)

Aosis/LDC: Mas eu preciso levantar um muro de contenção para já! O que eu faço com a água batendo na porta da minha casa?
(países insulares, como Tuvalu – cuja população inteira terá de se mudar ainda nesta década – e continentais, como Bangladesh – que está abaixo do nível do mar-, já estão sofrendo com o aumento do nível dos oceanos, causado pelo derretimento das calotas polares).

G8: Como vou te pagar em 10 anos, que tal aprender a pescar?
(países ricos aceitaram proposta do Brasil, de negociação ininterrupta até a COP30, a fim de se alcançar o US$1.3 trilhão em 2035)

Dessa forma, não tem graça, nem condição de superarmos as mudanças climáticas.

Foto: Brandão Filho (esquerda) e Paulo Gracindo (direita), em cena do quadro “Primo Rico e Primo Pobre”, do programa “Balança mas não Cai”. (fonte: cópia de tela, Memória Globo).