ODS 17

COP29 traz avanços no mercado de carbono, nas formas de investimentos e em novas oportunidades de combate às mudanças climáticas

É hora de revisitar a estratégia, explorar novos modelos de negócio e tecnologias sustentáveis emergentes, desenvolver uma relação de cadeia de valor transformadora e efetivar novos investimentos. No Brasil, temos muitas oportunidades nas mais diferentes cadeias de valor – da Energia ao Agro, da Mineração à Indústria –, inclusive com um papel estratégico de agregação de valor em direção à neoindustrialização e adensamento tecnológico do país.

COP29 traz avanços no mercado de carbono, nas formas de investimentos e em novas oportunidades de combate às mudanças climáticas

*Por Gustavo Lamanna

A COP29 representou mais um marco significativo nos avanços da sociedade para enfrentar as mudanças climáticas. A conferência anual, cuja edição de 2024 foi realizada na cidade de Baku, no Azerbaijão, trouxe importantes mensagens, provocações, consensos e concretude envolvendo sociedade civil, setor privado e governos – em especial os dois últimos.

Sob o lema “Em solidariedade por um mundo verde”, a COP29 demonstrou a que veio. A colaboração foi o mantra reforçado em vários momentos ao longo dos onze dias de evento. Para exemplificar como essa mensagem foi ecoada nas plenárias, pavilhões e salas de reunião, podemos citar três situações que evidenciam a força desse recado em diferentes momentos e contextos ocorridos na chamada Zona Azul, no Estádio Olímpico de Baku.

Logo no início da conferência, houve um avanço nítido na criação de um mercado global de carbono em linha com o Artigo 6 do Acordo de Paris. Líderes globais envolvidos nas discussões estabeleceram os padrões de qualidade para os créditos de carbono, um ponto crítico para a base de um mercado internacional regulado. Esse movimento foi um primeiro sinal da COP29 sobre a necessidade e a oportunidade da cooperação internacional em direção ao atingimento das metas climáticas.

Além disso, alguns painéis e discussões buscaram explorar modelos colaborativos inovadores para viabilizar e escalar os investimentos necessários para financiar as ações de mitigação e adaptação climáticas. O desafio não é o volume financeiro, mas sim como direcioná-lo para acelerar sua implementação. Uma abordagem que esteve em evidência nas discussões foi o blended finance, que busca criar uma estrutura de investimento compartilhado com diferentes stakeholders para potencializar o seu impacto e reduzir riscos. Nessas estruturas, também foi muito destacada a importância de mecanismos sólidos de governança e transparência, trazendo maior confiança aos investidores em tipos de investimentos que são novidade em vários aspectos.

Ainda nessa linha da escalabilidade dos investimentos, um dos pontos centrais das discussões foi sobre como podemos organizar e direcionar esses investimentos em uma perspectiva maior, sem perder a clareza da viabilidade dos projetos e seu potencial impacto e retorno. Nesse sentido, foram discutidas abordagens em modelo de plataforma. Um exemplo foi o lançamento da plataforma BIP (Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica), pelo Governo Brasileiro. Essa iniciativa visa expandir e tornar mais eficiente os investimentos internacionais na economia verde brasileira. Segundo os órgãos oficiais, os projetos selecionados inicialmente já somam R$10,8 bilhões em capital a ser mobilizado, em áreas como biocombustíveis e mineração sustentável.

O terceiro exemplo que evidencia a chamada pela colaboração diz respeito aos repetidos pedidos dos países em desenvolvimento para destinação de investimentos nas iniciativas e projetos sustentáveis em suas regiões mais vulneráveis, com forte representação do chamado Sul Global. Durante os discursos, pequenas nações foram enfáticas na necessidade de um maior protagonismo dos países desenvolvidos em financiar a transição que precisamos passar – seja nos países em desenvolvimento, ou em suas próprias emissões.

Muitos países fizeram questão de lembrar eventos climáticos extremos que sofreram nos últimos meses, e reforçaram a mensagem de que estes costumam ser os mais afetados, e ter maior dificuldade em se recompor após as catástrofes naturais. O posicionamento soou como um sinal de alerta.  Para enfrentar esses desafios, precisamos agir com urgência e resiliência, destacando a necessidade da escalabilidade nas ações.

Ao mesmo tempo que se colocou esse apelo ao apoio dos países mais ricos aos menos favorecidos, também ficou evidente como esse pode ser um momento de oportunidade para acelerar a industrialização e o desenvolvimento destas nações, com projetos já em atendimento às demandas climáticas. Com uma série de boas ideias, projetos inovadores e recursos naturais para explorar as chamadas Nature Based Solutions, os países do Sul Global, como o Brasil, podem ser grandes catalisadores na mudança que o mundo deve enfrentar.

Enquanto alguns países, como Itália e República Tcheca, buscaram defender a energia nuclear como uma alternativa limpa a ser expandida, sempre em linha com estritas medidas de segurança, outros painéis e discussões procuraram trazer à tona diversas fontes de energia sustentáveis, com atenção especial aos biocombustíveis.

No caso do Brasil, especificamente, foi frequentemente lembrada a expressividade da nossa matriz elétrica renovável (84% (ANEEL) frente 30% (IEA) como média global), e nossa força em biocombustíveis, com destaque para o papel do Etanol, e novas oportunidades como os combustíveis a partir do óleo da macaúba, como o SAF (combustível de aviação sustentável) – conectando os setores de Energia e Agro.

Ao pensar nos diferentes setores que se conectam a essas oportunidades, fica evidente, mais uma vez, a vantagem em se explorar a cooperação e visionar um plano de ação compartilhado em prol do crescimento econômico e sustentável da indústria e do país como um todo. A colaboração entre diferentes agentes – setor privado, governos e sociedade civil – será crucial para garantir o avanço das medidas e ideias discutidas durante a conferência e promover uma transição justa e efetiva. Destaca-se o papel de cada um desses atores, sendo os governos os responsáveis por criar um arcabouço regulatório propício e favorável às iniciativas verdes, tendo como aliado o setor privado para efetivar os projetos necessários e a sociedade civil participando ativamente das discussões e contribuindo para uma construção humana que “não deixe ninguém para trás” – outro mote reiterado em Baku.

Uma frase marcante durante um dos painéis ocorridos no Pavilhão da Deloitte, na Zona Verde da COP29, foi: “Por mais que não façamos nada, o mundo já não será mais o mesmo. E o custo de não fazer nada será muito maior do que agir”. Esta mensagem reforça que estamos em um momento de ação. E o setor privado, em especial, pode explorar uma série de oportunidades, contribuindo com o enfrentamento às mudanças climáticas, sem abandonar seus objetivos econômicos.

É hora de revisitar a estratégia, explorar novos modelos de negócio e tecnologias sustentáveis emergentes, desenvolver uma relação de cadeia de valor transformadora e efetivar novos investimentos. No Brasil, temos muitas oportunidades nas mais diferentes cadeias de valor – da Energia ao Agro, da Mineração à Indústria –, inclusive com um papel estratégico de agregação de valor em direção à neoindustrialização e adensamento tecnológico do país.

Vamos juntos explorar essas oportunidades, pensando de forma inovadora e em prol do nosso planeta. Em 2025, a COP30 será realizada no Brasil, em Belém, e queremos ter muitas boas histórias para contar ao mundo.

*Gustavo Lamanna é gerente sênior da Deloitte Brasil para Estratégia em Sustentabilidade.

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