Por Dal Marcondes –
A ruptura provocada pela eleição de Donald Trump no processo civilizatório global, reforçada pelos bilionários donos das bigtechs, está levando muitos ativistas de movimentos sociais, ambientais e de defesa dos direitos humanos a se questionarem se o abandono dos princípios ESG, de diversidade e de respeito às minorias é parte de uma desconstrução maior, ou apenas um interregno na caminhada da humanidade.
Em todas as rodas e redes de ativistas ou simpatizantes do que se convencionou chamar de movimento woke, aquele que defende o politicamente correto, comenta-se que o novo presidente dos EUA tirou o país do Acordo de Paris, que combate as mudanças climática, cancelou a associação à Organização Mundial de Saúde, orquestrou um ataque aos imigrantes que estão no país de forma ilegal e as risíveis iniciativas de mudar o nome do Golfo do México, ocupar a Groenlândia e anexar o Canadá.
Todas essas iniciativas podem ser qualificadas como ação de um autocrata que atua para obter likes em suas redes sociais. Aliás, seus principais aliados são justamente os donos dessas redes. Sua inveja do poder desses caras é tanta que Donald Trump criou uma rede para chamar de sua, a Truth Social.
Suas ações e intenções são sempre para causar impactos, ou apenas fazer espuma. Em relação aos imigrantes, todos os governos das últimas décadas nos EUA deportaram milhares de pessoas que estraram ilegalmente no país. Em pouco tempo a sociedade e a economia dos Estado Unidos perceberão que esse contingente de pessoas, que agora estão muito assustadas, e que Trump quer expulsar, fará uma baita falta no cotidiano dos cidadãos, de empresas e no caixa do tesouro.
No entanto, ao contrário do que a filósofa Hannah Arendt descreveu em seu livro “A banalidade do mal”, onde busca compreender como cidadãos acima de qualquer suspeita, na Alemanha nazista, foram capazes de cometer as maiores atrocidades contra minorias étnicas, políticas e sexuais, Donald Trump e seus acólitos agem com o espírito da maldade. Buscam causar o maior mal possível a aqueles que consideram um estorvo para o modelo de país que suas mentes distorcidas imaginam.
O país da superioridade branca, sem latinos e pobres em geral, sem gays ou lésbicas ou qualquer um que se enquadra nas definições LGBTQIA+, onde o Estado sirva aos interesses da elite branca. Sem a possibilidade de eliminar essas pessoas em campos de extermínio, o governo Trump perpetrou o mais diabólico ato de maldade explícita do século 21, condenando cerca de 2,3 mil mulheres trans que cumprem pena em presídios femininos federais nos Estados Unidos ao inferno de serem transferidas para presídios masculinos, dentro da diretriz de que só existem dois gêneros no país.
Se isso realmente for implantado, essas pessoas estarão condenadas ao inferno de uma vida de medo, pânico, abusos de toda ordem e estupros seguidos. Não há como se considerar isso uma ação banal e inconsequente. Por qualquer senso ético, moral, legal ou religioso do mundo, transferir essas pessoas para presídios masculinos é um bárbaro crime contra a humanidade.
Quando a bispa de Washington, Mariann Edgar Budde, tentou apelar para qualquer resquício de sentimento humanitário em Donald Trump, apenas explicando que as decisões do governo estavam afetando a paz e a justiça para milhões de pessoas e famílias, a reação foi acusa-la de “esquerdista radical”.
Os Estados Unidos nunca foram um país perfeito, sempre tiveram políticas imperialistas e certamente foram, e ainda são, responsáveis por fomentar guerras ao redor do mundo. Mas, sempre com um verniz civilizado.
O governo que tomou posse em 20 de janeiro de 2025 não tem escrúpulos em ser, de forma escancarada, xenófobo, homofóbico, misógino, negacionista da ciência e das mudanças climáticas, isolacionista e expansionista. Essas pessoas estão sentadas em postos de poder e são capazes de fazer tudo o que estão dizendo que irão fazer.