No contexto das mudanças climáticas, a dissonância cognitiva parece explicar os resultados do Climate Change and News Audiences Report 2024, publicado no final de janeiro.
O estudo analisa o uso de notícias e as atitudes do público em relação às mudanças climáticas em oito países, destacando a “inércia na percepção climática”. Essa inércia indica uma estagnação nas opiniões públicas, atitudes e engajamento com as questões climáticas, apesar da crescente urgência da crise.
No Brasil, 56% dos entrevistados relataram ter vivenciado inundações severas, 55% enfrentaram secas e 69% consideram que as mudanças climáticas impactam significativamente a saúde de suas famílias. Apesar disso, a inércia identificada não parece ser causada pela falta de informação, já que metade dos entrevistados nos oito países acompanha notícias sobre mudanças climáticas semanalmente. No Brasil, o engajamento com notícias sobre o clima é alto, principalmente através da televisão e fontes online, e 28% dos brasileiros têm algum conhecimento sobre a COP, demonstrando uma mistura de otimismo e ceticismo em relação à sua eficácia.
O estudo também revela que consumidores frequentes de notícias são mais propensos a perceber a piora das condições climáticas e os riscos pessoais, e que o público prefere notícias climáticas que conectem questões globais a eventos locais, enfatizando a importância da relevância pessoal.
Diante desse cenário, o jornalismo precisa continuar informando sobre as mudanças climáticas, relacionando-as às suas causas. No entanto, para romper a inércia na percepção da sociedade, é fundamental apontar os responsáveis pela inércia na ação climática: grupos ideológicos, políticos e econômicos. Nesses casos, não se trata de dissonância cognitiva, mas de fingimento, enquanto o planeta sofre as consequências da inação.