Washington, Estados Unidos, 1/4/2011 – Apesar da clara oposição de Barack Obama e da aparente ambivalência por parte de Israel, os neoconservadores nos Estados Unidos já têm na mira o presidente da Síria, Bashar al Assad, que esperam que seja a próxima pedra do dominó a cair na chamada “Primavera Árabe”.
Em um destacado artigo, publicado no dia 26, pelo jornal The Washington Post, Elliot Abrams, que foi máximo assessor do presidente George W. Bush para assuntos do Oriente Médio, cobrou da administração Obama uma série de medidas diplomáticas e econômicas similares às empregadas contra a Líbia. Segundo Abrams, os Estados Unidos e a Organização do Atlântico Norte (Otan) também deveriam intervir militarmente na Síria para enfraquecer Assad e fortalecer a oposição.
Nesse mesmo dia, o The Wall Street Journal exortou, em se editorial, o governo Obama a apoiar a oposição síria “de todas as formas possíveis. É impossível saber quem sucederá Assad se cair seu regime da minoria alauí, mas é difícil imaginar outro pior para os interesses dos Estados Unidos”, afirmou o jornal.
Sua cada vez mais neoconservadora contraparte no The Washington Post (que na semana passada qualificou Assad de “capanga irremediável”) cobrou do governo norte-americano apoio “de forma decisiva aos que na Síria buscam uma mudança genuína”, e no dia 29 Tim Pawlenty, possível candidato à presidência nas eleições de 2012 pelo opositor Partido Republicano, apoiou plenamente as recomendações de Abrams e chamou Assad de “assassino”.
Esta campanha para intervir na Síria – quando Washington está profundamente envolvido na guerra da Líbia e segue de perto a situação dos regimes amigos no Bahrein e no Iêmen – foi lançada quando, nas últimas semanas, ficou claro que Assad enfrentava o que a maioria dos observadores em Washington acreditam ser a crise mais grave de seu governo em 11 anos. Mais de 60 pessoas morreram em combates entre manifestantes e policiais em todo o país desde o início das manifestações, na localidade de Deraa há duas semanas.
A esperança de que Assad, que desmantelou seu gabinete no dia 29, anunciasse uma série de reformas incluindo o fim da lei de emergência, que está em vigor há 50 anos, se viu diluída no dia seguinte quando em um discurso no parlamento atribuiu a instabilidade em seu país a uma “conspiração” internacional. Embora tenha sugerido que introduziria importantes reformas, não especificou quais nem quando.
“Haverá mais manifestações”, previu Bassam Haddad, especialista em Síria para a norte-americana Universidade George Mason, acrescentando que o regime permanece dividido entre reformistas e conservadores. “Se Assad se salvar, creio que a resposta (a novos protestos) será suave. Porém, se a ala mais dura se destacar, haverá uma repressão que terá o efeito de bola de neve, podendo se converter em um pesadelo para o regime”, ressaltou.
Isso seria, provavelmente, bem recebido pelos neoconservadores e pelos “falcões” (ala mais belicista) em Washington, alguns dos quais já sugeriram que uma repressão violenta lhes permitiria invocar como precedente a intervenção na Líbia e realizar forte ação contra o regime de Assad. A administração Obama, que tentou atrair Damasco em uma ampla estratégia para enfraquecer a influência regional do Irã, considera Assad um líder com inclinação reformista mas sem habilidade para enfrentar as forças mais conservadoras em seu Partido Baath e entre os militares.
No dia 27, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, descreveu Assad como “um líder diferente”, dizendo que “muitos membros do Congresso que visitaram a Síria nos últimos meses disseram que é um reformista”. Estas declarações desagradaram aos neoconservadores, que há tempos consideram a dinastia Assad um dos principais inimigos no Oriente Médio devido aos seus vínculos com Teerã, ao seu histórico apoio ao movimento xiita libanês Hezbolá (Partido de Deus), ao palestino Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e, desde a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, supostamente também aos insurgentes sunitas nesse país.
De fato, um memorando preparado em 1996 por neoconservadores norte-americanos (que depois ocuparam destacados postos no governo Bush) para o então novo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, identificava a derrubada do presidente iraquiano Saddam Hussein (1979-2003) como um passo fundamental em uma ampla estratégia para desestabilizar a Síria.
Durante a guerra de 2006 entre Israel e Hezbolá, Abrams havia exortado o Ministério da Defesa israelense a expandir sua campanha de bombardeios e incluir alvos na Síria, algo que teve apoio expresso de outros falcões fora do governo Bush. Para sua frustração, os israelenses não aceitaram a sugestão.
Os neoconservadores e seus aliados no Congresso lutam com unhas e dentes contra os esforços de Obama para normalizar as relações com Damasco, rompidas desde que o governo Bush acusou o governo sírio de ligação com o assassinato, em 2005, do primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em Beirute. Agora, claramente acreditam que a Primavera Árabe apresenta uma nova oportunidade para uma “mudança de regime” em Damasco e que deve ser aproveitada sem demora.
*O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser acessado aqui.