Berlim, Alemanha, 5/4/2011 – O acidente na central atômica de Fukushima levou vários países europeus a repensarem radicalmente suas políticas sobre energia nuclear. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel, anunciou que apresentará uma nova agenda energética dentro de três meses. Isto coincidiu com a moratória à energia nuclear decretada por seu governo no dia 14 de março, pouco depois do terremoto e do tsunami que devastaram a costa nordeste do Japão e danificaram severamente o complexo de Fukushima.
Esta moratória inclusive adiou por três meses a própria decisão do governo, de setembro do ano passado, de prolongar em 12 anos, em média, a vida útil de todas as 17 centrais nucleares que operam no país. Além da moratória, Berlim imediatamente ordenou o fechamento definitivo de dois dos mais antigos reatores atômicos, que funcionavam desde a década de 1970. Outros cinco, da mesma época, também foram fechados, mas temporariamente e um teve seu funcionamento suspenso por problemas técnicos.
Dados oficiais indicam que 17 usinas nucleares alemãs geravam 23% de toda energia consumida pelo país. Contudo, o atual fechamento de quase metade da capacidade atômica instalada não causou escassez. O ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, disse, no dia 31 de março, que durante o período de três meses, que terminará em junho, o governo verificará a segurança e os padrões técnicos em todas as centrais atômicas por meio de simulações de terremotos, inundações e ataques com aviões. “Temos de averiguar se nossas usinas nucleares podem resistir a esses tipos de incidentes e quais riscos podem enfrentar”, afirmou em entrevista coletiva.
A catástrofe de Fukushima teve grande impacto na política alemã. Nas eleições parlamentares regionais dos Estados de Baden-Wuerttemberg e Renania-Palatinado, no dia 27 de março, os ambientalistas do Partido Verde, formado em sua maioria por ativistas antinucleares, obteve importante proporção de votos. Em Baden-Wuerttemberg – reduto da conservadora União Democrata Cristã –, os verdes conseguiram pela primeira vez o posto de primeiro-ministro do Estado, e formarão uma coalizão com o Partido Social-Democrata. Espera-se uma aliança similar em Renania-Palatinado.
Verdes e social-democratas governaram a Alemanha entre 1998 e 2005, e aprovaram a eliminação gradual da energia atômica. Estava previsto que isso se concretizaria até 2022, mas a decisão de Merkel, de setembro, deixou sem efeito essa iniciativa. Após a crise japonesa, especialistas em energia reafirmaram que a Alemanha, sem suas usinas nucleares, não chegaria a 2015 sem sofrer escassez energética.
Porém, Olav Hohmeyer, professor de Políticas Energéticas na Universidade de Flensburg e membro do Painel Internacional de Especialistas sobre Mudança Climática (INPC), vinculado à Organização das Nações Unidas, não concorda com essa afirmação. “Podemos fechar todas as centrais nucleares em poucos anos sem maior custo e sem ter escassez”, assegurou à IPS.
A União Europeia (UE) também anunciou que fará “testes de pressão” em 143 usinas nucleares nos países-membros. Estes testes podem levar ao fechamento de várias centrais. Durante uma intervenção no Comitê de Meio Ambiente da EU, em 16 de março, o comissário Gunther Oettinger disse que 143 centrais serão testadas quanto à segurança, considerando os potenciais impactos de terremotos, inundações, acidentes aéreos e ataques terroristas contra os sistemas de esfriamento dos reatores e a estabilidade do fornecimento local de energia.
Apesar de o anúncio dos testes ter sido comemorado em quase todas as instâncias europeias, especialistas em meio ambiente e energia destacaram que os riscos representados pela energia nuclear vão além da simples operação dos reatores. Carl Schlyter, membro do Parlamento Europeu representando o Partido Verde da Suécia, disse que os riscos da energia atômica “incluem toda a cadeia de produção: exploração de minas de urânio, seu transporte, tratamento do lixo radioativo e a segurança da usina”.
A Itália também suspendeu sua decisão de construir novas usinas. Esse país, único do Norte industrializado atualmente sem energia atômica, as eliminara após o acidente de 1986 em Chernobyl, na Ucrânia. A catástrofe de Fukushima lançou por terra a intenção do governo italiano de construir quatro novas centrais antes de 2020. No dia 23 de março, o ministro da Indústria, Paolo Romani, anunciou a suspensão dos planos “por um ano”.
Especialistas chamam a atenção para vários reatores nucleares localizados em áreas de sismos de alguns países europeus, como Bulgária, Eslovênia e Romênia.
Na França, o governo de Nicolas Sarkozy continua se negando a fazer uma revisão de sua política, apesar de a oposição à energia atômica ter crescido desde a crise em Fukushima. No dia 25 de março, o jornal Libération dedicou sua edição a argumentar contra a energia nuclear. Em seu editorial, o jornal dizia que este setor na França é uma “mitologia nacional” e exortou Paris a fechar os reatores “antes de 2050”.
Numerosos especialistas que colaboraram com essa edição queixaram-se de que, apesar do desastre no Japão, o governo e a sociedade da França continuam fechando os olhos diante dos “óbvios perigos da energia atômica”.
“Não podemos simplesmente aceitar que serão cada vez mais frequentes as catástrofes nucleares, considerando que, supostamente, cada vez mais países querem construir usinas atômicas”, disse à IPS o físico nuclear Bernard Laponche. “A humanidade deve desenvolver em maior escala e no menor tempo possível a tecnologia necessária para usar todos os recursos de energia renovável que possa dominar”, acrescentou. Envolverde/IPS