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Inundações conspiram contra agricultura em Trinidad e Tobago

Foto: Reprodução/ http://www.klimanaturali.org/

 

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 20/5/2013 – A temporada de chuvas na região do Caribe começa oficialmente em junho, simultaneamente com a de furacões. Contudo, nos últimos tempos, fortes precipitações marcaram um início precoce, transbordando rios, inundando ruas e arruinando plantações. “Com o aquecimento global pode-se esperar qualquer coisa nestes dias”, disse à IPS o presidente da Associação de Agricultores de Trinidad e Tobago, Shiraz Jan.

Segundo Jan, a situação se complicou ainda mais pelo fato de durante a temporada seca muitas pessoas destruírem cursos hídricos, prejudicando terras que os produtores usavam para plantar. “Isto é basicamente o que ocorre em todo o país”, afirmou, alertando os consumidores para que se preparem para um aumento no preço dos alimentos, já que os agricultores veem, indefesos, como as inundações destroem suas plantações.

Dhano Soojo, presidente da Sociedade Agrícola de Trinidad e Tobago, contou à IPS que “os canais de água não recebem manutenção”. Ele exige a criação de um grupo interagências que inclua o governo para elaborar soluções para o problema. O governo, que no passado teve de compensar os agricultores com milhões de dólares por cultivos perdidos em inundações, afirmou que realizará uma avaliação da situação e que “a oportuna apresentação das reclamações garantirá um rápido desembolso” do dinheiro destinado ao alívio do problema.

Devant Maharaj, ministro de Produção Alimentar, declarou que, tão logo sejam feitas as reclamações junto às autoridades competentes, será elaborado um esquema de pagamentos, embora Jan tenha observado que, em algumas áreas, as perdas dos agricultores chegaram a 100%. Porém, os funcionários encarregados de enfrentar desastres culpam pelas inundações o fato de construtores desmatarem as ladeiras dos morros, e o desmatamento e queimadas que os agricultores praticam para limpar a terra antes de cultivá-la.

Os morros têm um ciclo natural pelo qual se reabastecem durante a temporada seca, disse Stephen Ramroop, diretor de Manejo e Preparação para Desastres, em um discurso que fez durante reunião do Grupo Intergovernamental de Coordenação para o Sistema de Alerta de Tsunamis e Outros Riscos Costeiros para o Caribe, realizada este mês em Porto Espanha. Por causa deste ciclo natural, não se pode frear todos os incêndios, explicou, acrescentando que não se deve permitir que os moradores construam suas casas ilegalmente e de modo a ficarem em perigo.

Ramroop também citou na reunião um reconhecimento aéreo feito sobre as ladeiras dos morros do país. “O que vimos foi que muita água estava caindo sobre as estradas porque as pessoas colocavam pedras e areia nas drenagens, obstruindo cursos hídricos e causando inundações”, afirmou, lembrando que nos últimos meses as autoridades limparam vários desses canais apenas para que a situação não se repetisse. “Não podemos continuar limpando drenagens bloqueadas pelas pessoas”, ressaltou.

O governo de coalizão da Associação Popular disse que adotará uma posição dura contra quem constrói estruturas e não cumpre os vários códigos existentes a respeito. Esses “maus construtores” não terão opção a não ser aderir aos padrões quando se desenvolver e implantar a Estratégia Espacial Nacional, afirmou Bhoendradatt Tewarie, ministro de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável.“Quando assumi o cargo não quis nenhum tipo de implementação severa porque a situação não estava clara e as regras tampouco, e era tudo muito arbitrário”, afirmou.

Agora, uma vez colocadas em prática as estratégias nacional e regional, “seremos muito rígidos em relação às novas construções e aos padrões que seguirão. Não estou brincando”, enfatizou Tewarie à IPS. Segundo o ministro, já há 12 novos funcionários dedicados a fazer cumprir as regras e outros fazem cursos para “alinhar” a aplicação das normas com “a nova estratégia de desenvolvimento espacial e as novas estratégias regional e comunitária de construção”, e que, se os empreiteiros se comportarem “como cidadãos que não se importam com nada”, serão tomadas medidas drásticas.

O governo busca introduzir um projeto de planejamento e desenvolvimento que se centre nas grandes construções, como os projetos assumidos pelo Estado ou por construtores privados. Se for aprovado, também estenderá aprovações a organismos governamentais locais para projetos de moradia nas comunidades. Entretanto, mesmo enquanto as autoridades lidam com as causas das inundações, uma empresa local de comércio e distribuição declarou que pode fornecer a tecnologia para os agricultores produzirem mais alimentos de melhor qualidade ao longo do ano.

A companhia afirmou ter unido esforços com a norte-americana Atlas Manufacturing para instalar estufas baratas a pedido dos agricultores que já utilizaram estas tecnologias. “Os produtores nos contaram os problemas que tinham. Queriam que instalássemos uma estufa adequada ao clima”, disse Fareed Rahaman, diretor-técnico do Departamento Agrícola e Industrial da empresa local M&D. “A estufa trará muitíssimas oportunidades e benefícios para os agricultores”, ressaltou à IPS.

Em um exercício de demonstração, Rahaman afirmou que um único agricultor pode produzir 454 quilos de tomates por semana a partir de mil plantas, já que a produção de estufa supera de modo significativo a de exteriores. “Na temporada chuvosa, os preços dos cultivos tendem a subir. Para se manter os preços razoáveis ao longo do ano, é preciso fazer discretamente”, acrescentou, destacando que na temporada chuvosa diminuem os nutrientes do solo e aumenta a erosão, fatores que conspiram contra os agricultores e diminuem a produção geral. Envolverde/IPS