Emissões de CO2 do Japão podem aumentar em 10% sem energia nuclear

Em 2009, usinas atômicas foram responsáveis por 27% da geração elétrica do país.

Além dos desastres ocorridos recentemente no Japão, outra má notícia pode se concretizar no país nos próximos anos. De acordo com uma estimativa do ministério do Meio Ambiente, se não forem instaladas novas usinas e recolocados em funcionamento os reatores danificados no terremoto ocorrido em março, as emissões de carbono podem subir 10%.

O cálculo leva em consideração as metas de 2020 comparadas com base de referência de 1990. Até a época do acidente em Fukushima, o Japão planejava construir nove reatores novos, aumentando de 27% para 50% a geração de energia provinda de fontes nucleares.

O aumento na capacidade atômica do país contribuiria para alcançar as metas de redução de 25% nas emissões de dióxido de carbono. Mas em razão dos abalos sísmicos, 14 estações em todo o território saíram de funcionamento, e o Japão estuda suspender o uso da energia nuclear.

No início do mês, Hideki Minamikawa, porta-voz da agência de segurança do país, declarou que o país terá que reavaliar as metas de redução de emissões. “É verdade que nossas metas de redução serão afetadas significativamente. A meta anual e o tamanho da redução serão reavaliados”.

Já o secretário Yukio Edano afirmou que as metas só serão alteradas quando houver uma melhor compreensão do impacto e do potencial de reconstrução. “É óbvio que esse desastre causará um grande impacto em vários setores do Japão. No momento, nós não decidimos se vamos rever as metas e não estamos no estágio de tomar uma decisão”.

Caso opte por não aderir novamente às usinas atômicas, o mais provável é que o Japão substitua a geração de energia nuclear por fontes fósseis, como o carvão ou o gás natural liquefeito.

Atualmente, o país já utiliza alta porcentagem dessas fontes na produção de eletricidade, sendo 26% o índice do gás natural na geração energética e 28% o do carvão.

Além disso, o número de usinas de gás natural cresce anualmente, e o país ainda é o maior importador mundial de carvão e gás natural liquefeito. Somado a este cenário padrão, o aumento no uso de carvão e gás natural para a produção de energia aumentaria as emissões de carbono em 414 milhões de toneladas até 2030, um crescimento de 10%.

Energias renováveis

Trocar a geração de energia nuclear pela produção energética solar, por exemplo, iria requerer das estações solares uma contribuição cem vezes maior do que a atual. Para se ter uma ideia, a capacidade solar gerada no Japão atualmente é de 2,1 bilhões de kWh (0,2% do total de eletricidade) e seria necessário que aumentasse para 267,8 bilhões de kWh (27% do total).

Além da questão do aumento da capacidade, a área coberta pelos paineis solares também teria que ser muito maior. Para substituir toda a capacidade nuclear do país, as células fotovoltaicas teriam que cobrir 52% da área total do Japão. E, estimando-se um custo de US$ 5 por watt instalado, a implementação de 203 GW de capacidade solar custaria ao menos US$ 1,01 trilhão.

Já considerando a substituição da energia atômica pela eólica, a capacidade da segunda também teria de ser aumentada em quase cem vezes, de 3,257 bilhões de kWh (0,3% do total) para 267 bilhões de kWh. Isso exigiria 152 GW de capacidade eólica instalada, o que teria um custo total de US$ 375 bilhões. E os parques eólicos teriam que cobrir mais de 50% da área total do país.

Segundo Minamikawa, ainda é cedo para tomar qualquer decisão. “Levará alguns meses até finalmente colocarmos as coisas sob controle e termos uma ideia melhor sobre o futuro. Enfrentaremos momentos decisivos nos próximos meses, mas isso não será o final de tudo”.

* Publicado originalmente no site do CarbonoBrasil.